quarta-feira, 29 de abril de 2009

Dez versões estrangeiras de músicas brasileiras


Esperanza Spalding


Pink Martini


Pizzicato Five


Arcade Fire


1. Pink Martini – Tempo perdido
Pode ser criticado o ecletismo do Pink Martini, mas o som deles é irretocável. No Hey Eugene, seu mais recente disco -que já tem dois anos- eles gravaram uma versão muito digna de Tempo perdido, do grande Ataulfo Alves, que originalmente gravara Carmen Miranda em 1933, abrindo as portas do sucesso para Ataulfo.

2. Sinéad O’Connor – How insensitive (Insensatez)
Em seu disco de 1992, Am I not your girl?, Sinnéad gravou as músicas que ouvia sendo uma criança, canções que segundo ela, fizeram que se tornasse cantora. O clássico de Jobim e Vinicius, em inglês, tem toda uma carga inédita que só a cantora irlandesa consegue reformular. Bom, a essa altura não preciso dizer que tenho uma queda por Sinnéad, certo?

3. Pepino Di Capri – Ancora con te (Outra vez)
Da grande compositora paulistana Isolda, responsável por várias gemas do Rei, esta versão italiana gravada em 1985, na mesma linha da original, por Pepino Di Capri.

4. Jim Capaldi com George Harrison – Anna Julia
O baterista da histórica banda Traffic era casado com uma carioca chamada Ana. Quando ouviu o megasucesso do Los Hermanos, fez questão de gravar. Levou a música pra Inglaterra e contou com a breve participação do seu vizinho ilustre, George Harrison, que iria morrer pouco depois. A música teve ainda o Ian Paice, lendário baterista do Deep Purple. Jim também já subiu e se ainda faltava mais fama a essa música de Marcelo Camelo, ficou lá imortalizada em inglês como a última gravação em colaboração do saudoso George.

5. Queen Latifah – Quiet nights of quiet stars (Corcovado)
Jobim é o xodó dos compositores de jazz e das cantoras dos Estados Unidos. Queen Latifah faz bonito nessa versão de Corcovado, com ginga de bossa nova.

6. Arcade Fire – Brazil (Aquarela do Brasil)
Uma das músicas mais gravadas pelo mundo fora, também caiu nas graças da banda canadense multi-instrumental Arcade Fire. Lançado em 2005 como lado B do single Cold Wind. Uma versão simpática dominada pelas cordas, que lembra a dimensão da criação de Ary Barroso.

7. Art Garfunkel – Waters of march (Águas de março)
Aqui faltou tempero. A metade do lendário Simon & Garfunkel canta com seu habitual jeito doce mas não acerta no ritmo do clássico do Jobim.

8. Pizzicato Five – The Girl from Ipanema (Garota de Ipanema)
Adoro esses japoneses malucos do Pizzicato Five. Pena que eles acabaram. No seu jeito retrô-kitsch eles seguem a tradição japonesa que pouco cria e tudo recria. E eles fizeram uma criação mesmo com Garota de Ipanema, apesar das trossentas versões que já existiam em 1997, quando foi lançada a dos Pizzicato na coletánea Lounge-A-Palooza.

9. Attaque 77 – Amigo
Assim como várias bandas do rock brasileiro fizeram versões de músicas dos hermanos -algumas com bastante sucesso e sem conhecimento da origem- também existem as versões em espanhol de músicas brasileiras, feitas por bandas do rock argentino. O Attaque 77 é um grupo de hard rock surgido na década de noventa. Eles eram bem fraquinhos no começo, mas com os anos de estrada ficaram melhores. A inocente Amigo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos virou um rock de guitarras sujas que já fez pular bastante à galera.

10. Esperanza Spalding – Ponta de areia
Uma das mais novas queridinhas do jazz estadunidense, Esperanza é boa de palco, canta bonito e encara o contrabaixo acústico. No cd que leva seu nome, Esperanza gravou a belíssima Ponta de areia, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Diferentemente da Jane Monheit, que assassinou o português na sua ininteligível Só tinha de ser com você, Esperanza se esforçou na fonética. Deu certo.

Pra começar, é lista, não é ranking, então como sempre escrevo, a ordem não indica valor. E como a lista de versões gringas de músicas brasileiras é imensa, escolhi essas dez que, de uma ou outra maneira acrescentam valor ou representam curiosidade.
Com autoridade de gringo posso dizer que neste quesito se bem prefiro a grande maioria das versões originais, gosto de ouvir outras aproximações à música brasileira, desde que sejam feitas com respeito intelectual. Isto é pode virar a música de ponta-cabeça, mas não pode canibalizar sem nenhuma proposta artística. Enfim, poderá haver segundas partes para esse item.


Foto de Esperanza Spalding de Johan Sauty
Foto de Pink Martini de Sherri Diteman
Foto de Pizzicato Five de Soren Hitting
Foto do Arcade Fire de Wendy Lynch

terça-feira, 28 de abril de 2009

Paulo César Pinheiro - 60 anos



Sou carioca tenho muitos anos de janela
Sou do bairro imperial
Bati canela entre a rua dela e o Largo da Cancela
Andei no morro de São Roque, no Tuiuti também
Brinquei no bloco do ninguém é de ninguém (foi lá que eu andei)
Por causa dela
A moça da cor de canela
Que era a mais bela, eu sou compositor
Fiz meu nome na favela
Fui boêmio do Capela
Sou querido no meio do meu pessoal

E meu grande amor na passarela
É a Portela quando chega o carnaval.

Carioca da gema, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro
Foto de Paulo César Pinheiro de Fernando Souza

Hoje completa 60 anos o poeta e compositor Paulo César Pinheiro, referência incontornável da música popular brasileira, de quem se afirma que tem mais de mil músicas gravadas.
Saúde ao PCP!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O incapaz



Conheço a nova ordem
que esse calor revela
pitanga bagaço favela
Guimarães Rosa
e as pessoas continuam
regando as plantas
no final do dia

posso ser assaltado na esquina
sentir a febre nas bordas
da pele
conheço a padaria Santo Amaro
o veneno que os humanos
inoculam
posso ter esquecido o caminho
sentir que já vou tarde pra viver
delírio
posso um conjunto de
banalidade
e duas ou três coisas vitais

mas não posso te amar todos os dias
como se fosse o primeiro dia
como se fosse o primeiro homem
e a tempestade fosse mentira
mas não posso te lembrar
entre os instantes
e muito menos te alegrar
todas as horas
eu sou o incapaz que à noite abraça
e vira caçador na alvorada.

O incapaz, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto detalhe do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, sem crédito do autor. Por essas ruas, nasceram os primeiros versos desse poema

sábado, 25 de abril de 2009

Don Sixto Palavecino



Ontem partiu, aos 94 anos, Don Sixto Palavecino, grande violinista do folclore argentino, músico de tradição familiar que pegou o violino desde criança, apesar da advertência da mãe: "Se você estudar música vai virar um bêbado".
Mas o menino dos morros de Santiago del Estero ficava às noites praticando, baixinho, debaixo do cobertor, até que foi descoberto. "Vamos lá, mostre o que você sabe fazer com o instrumento". E dizem que quando o garoto mostrou, ninguém mais ousou criticar seu desejo de ser músico.
Mas ele só conseguiu viver da música na década de oitenta, quando o cantor de origem roqueiro León Gieco fez sua obra monumental De Ushuaia a La Quiaca, percorrendo a Argentina e levando pra cena nacional diferentes músicos do folclore.
Don Sixto foi também um grande defensor e divulgador da língua quíchua, falada por vários povos do eixo dos Andes e perseguida e condenada ao esquecimento, na medida em que os espanhóis conquistaram com a espada e também com a palavra.
O homem fazia questão de falar em quíchua na rádio e as vezes nas entrevistas e traduziu pra essa língua o Martín Fierro, de José Hernández, considerado o Quixote da poesia gaúcha.
O músico que se chamava a si mesmo de violinisto era dono de uma técnica pessoal até na maneira de segurar o violino.
Junto com ele, vai uma porção da memória cultural desses povos.

Don Sixto Palavecino interpretando a zamba La callejera

Foto de Sixto Palavecino do jornal La Nación, sem crédito do autor

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Chavela Vargas faz noventa anos em paz


"Eu saí dos infernos, e foi cantando"

A cantora Chavela Vargas, que levou a música mexicana aos palcos do mundo, fez noventa anos no dia 17 de abril.
A data foi comemorada com um show onde marcaram presênça Lila Downs -a herdeira segundo Chavela- e Julieta Venegas. A intérprete de Macorina, também foi cumprimentada através do vídeo pelo diretor Pedro Almodóvar -responsável pelo renascimento popular da cantora quando estava esquecida e ele incluiu as músicas dela nos seus filmes- e pelo cantor Joaquín Sabina, que lhe dedicou a música Por el boulevard de los sueños rotos (Pelo calçadão dos sonhos quebrados) e a batizou "La dama del poncho rojo", pelo poncho vermelho que é sua marca registrada nos palcos e fora deles.
Chavela nasceu em Costa Rica mas morou desde criança no México. O compositor José Alfredo Jiménez abriu o caminho para que ela gravasse seu primeiro disco em 1961.
Amante de Frida Kahlo, dizem que de jovem andava com um charuto na mão e uma pistola na cintura.
Bebeu todas, perdeu-se no inferno e voltou.
Longe dos palcos desde 2006, mora sozinha em Tepoztlán, perto do Distrito Federal. Passa os dias com sua cachorra Lola, lendo e conversando com as vizinhas.
Segundo a amiga María Cortina, que organizou a comemoração dos noventa anos, "Chavela não deixa nada escrito, não tem bens materiais. Só sua casa e seu poncho vermelho".

Foto de Chavela Vargas da Agência EFE

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O cavalo de São Jorge




O cavalo de São Jorge foi passear na areia
Vamos fazer samba que o santo guerreiro hoje está na aldeia
Tem samba no mar, sereia
Tem samba no mar, sereia
Oi, tem samba no mar, sereia
Tem samba no mar sereia

É que diz o povo
Que hoje a poliça não contrareia
Tem samba no mar, sereia
Tem samba no mar, sereia

Quando o cavalo de São Jorge corcoveia
O que é que cai de seu alforje, lua cheia
Luz que alumeia quem samba na beira do mar, sereia
Luz que clareia no samba só me faz lembrar Candeia

Vem sambar, que tem samba no mar
Vem sambar que tem samba no mar
Não vadeia quelé Clementina, não vadeia

Eu queria poder pegar na cintura dela
Eu queria poder pegar na cintura dela
Mas seu namorado está de olho nela
Mas seu namorado está de olho nela

O cavalo de São Jorge foi passear na areia
Vamos fazer samba enquanto o cavalo de Ogum passeia
Tem samba no mar, sereia
Tem samba no mar, sereia
Oi, tem samba no mar, sereia
Tem samba no mar, sereia...

O cavalo de São Jorge, de Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro
Reprodução da obra São Jorge e o dragão, de Peter Paul Rubens

E viva São Jorge guerreiro!
E viva Roque Ferreira!
E viva Pixinguinha que hoje também faz aniversário e que por isso também é comemorado o Dia Nacional do Chorinho

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Taurinas


A cantora e atriz Barbra Streisand


A bailarina Margot Fonteyn


A escritora Charlotte Brontë


A cantora Beth Carvalho


A atriz Audrey Hepburn


Elas e Andie McDowell, Elaine May, Shirley Temple, Joyce DeWitt, Thaís de Andrade, Sandra Dee, Sheena Easton, Shirley MacLaine, Nair Bello, Katharine Hepburn, Jordana Brewster, Judy Collins, Michelle Pfeiffer, Susannah Harker, Debra Winger, Penélope Cruz, Traci Lords, Jill Clayburgh, Dalva de Oliveira, Anouk Aimée, Bianca Jagger, Sandy Dennis, Hillary Duff, Betty Faria, Nora Ephron, Celeste Holm, Nana Caymmi, Cher, Deborah Caprioglio, Linda Evangelista, Candice Bergen, Sheryl Lee, Angela Maria, Jessica Alba, Dircinha Batista, Laetitia Casta, Bebel Gilberto, Jill Ireland, Janete Clair, Thalma de Freitas, Maria Guimarães Sampaio, Cloris Leachman, Maria Padilha, Tammy Wynette, Tizuka Yamasaki, Rita Coolidge, Lori Singer, Samantha Mathis, Golda Meir, Renée Zellweger, Mariana Ximenes, Maureen O’Sullivan, Natasha Richardson, Eva Perón, Ella Fitzgerald, Glenda Jackson, Talia Shire, Carol Burnett, Coretta Scott King, Ann-Margrett, Kari Whurer, Uma Thurman, Kirsten Dunst, Maria Carmem Barbosa, Teresa Brewer, Martha Graham, Cate Blanchett, Tori Spelling, Grace Jones.
Todas elas nascidas sob o signo de Touro.

Foto de Barbra Streisand de Cecil Beaton, da coleção Condé Nast
Foto de Margot Fonteyn de Agnus McBean
Foto de Charlotte Brontë, de autor desconhecido
Foto de Beth Carvalho de Antonio Guerreiro
Foto de Audrey Hepburn de Luc Fournol

terça-feira, 21 de abril de 2009

Taurinos


O cantor e compositor Iggy Pop


O ator Daniel Day-Lewis


O dançarino e ator Fred Astaire


O músico Pixinguinha


O político Malcolm X

Eles e Marcel Camus, Anthony Quinn, John Muir, Peter Frampton, Aaron Spelling, Vladimir Nabokov,Mano Brown, Jack Nicholson, Léo Jaime, Sergei Prokofiev, Vital Brazil, Andre Agassi, Lee Majors, Roy Orbison, Orson Welles, Stênio Garcia, Rogério Sganzerla, Zubin Mehta, Engelbert Humperdinck, George Lucas, Robert Zemeckis, Tom Ewell, Salvador Dali, Glenn Ford, Willie Nelson, Herbert Vianna, Charles Grodin, Tim Roth, Joe Louis, Ataulfo Alves, Yehudi Menuhin, David O. Zelnick, Peter Benchley, Dennis Hopper, Joe Cocker, Benjamin Spock, Tyrone Power, Rodolfo Valentino, Steve Winwood, Jerry Seinfeld, Billy Joel, Johannes Brahms, Richie Valens, Orestes Barbosa, Pete Seeger, Al Pacino, Stu Cook, Pierce Brosnan, Morris West, Ace Frehley, George Clooney, Duke Ellington, Henry Fonda, Dorival Caymmi, Burt Young, Donovan, James Brown, Sugar Ray Leonard, John Woo, Antônio Nóbrega, Albert Finney, Jamelão, Eddie Albert, Severino Araújo, Bing Crosby, Lima Barreto, Stevie Wonder, Dennis Rodman, James Mason, William Shakespeare, Burt Bacharach, Agildo Ribeiro, Bono, James L. Brooks, Paul Mazursky, Frankie Valli, Niccoló Machiavelli (Nicolau Maquiavel), Lulu Santos, Karl Marx, Sigmund Freud, Gary Cooper, Pyotr Tchaikovsky, Dedé Santana, Sid Vicious, Irving Berlin, Ving Rhames, Harvey Keitel, David Byrne, Frank Capra, Pete Townshend.
Todos eles, taurinos.

Foto de Iggy Pop de Robert Matheu
Foto de Daniel Day-Lewis, reprodução do filme Sangue Negro (There Will Be Blood)
Foto de Fred Astaire, sem crédito do autor
Foto de Pixinguinha, sem crédito do autor
Foto de Malcolm X, de MPI-Getty Images

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cinema Paradiso em Uruguai



Tinha destino de templo evangélico ou supermercado, mas o cinema Helvético, da pequena cidade de Colonia Suiza, em Uruguai, continua sendo cinema.
Construída em 1912, a sala era o eixo da vida social do povo. Porque cinemas, como igrejas, eram isso, um espaço de socialização. Lá se encontravam as famílias, os namorados; lá se estreavam os filmes e também as moças na vida adulta. E nas cidades pequenas como Nova Helvecia, o nome real da cidadezinha conhecida como Colonia Suiza -que tem 11.500 habitantes- o cinema sediava os bailes de carnaval, os comícios e as assembléias dos vizinhos.
Pois bem, em 1985, o Helvético foi a falência, como tantos cinemas antigos que não conseguiram manter a estrutura, na medida em que os costumes e a economia mudaram. A dona não conseguiu driblar as dívidas e colocou à venda o velho cinema de arquitetura art-nouveau.
Mas os vizinhos não aceitaram esse final. Organizados, foram bater portas, pedir empréstimos, fazer concursos e sorteios para arrecadar dinheiro. Um pouquinho daqui outro pouco de lá, a prefeitura deu uma força e o Helvético reabriu as portas em 1998.
Mas em 2001 veio outra crise, outro devaneio do mundo financeiro que faz alguém espirrar na Austrália e a gente ter que correr atrás das aspirinas. De novo o sonho parecia ir por água abaixo, mas os cidadãos não se renderam e conseguiram que o Helvético fosse tombado.
Agora acabaram de pagar as dívidas e no sábado fizeram uma festa para comemorar. O povo inteiro comparaceu.
Lógico. O que era deles ficou com eles.

Foto do Cine Helvético, na Colonia Suiza, Uruguai, quando foi reaberto em 1998, de Nora Mazzini

domingo, 19 de abril de 2009

Ainda o mistério da fé


"... E levarei seu nome a todos que têm fé".



Hoje milhares de devotos comemoraram o dia do padroeiro das causas urgentes.

Foto de fieis em Buenos Aires, da Agência Telam

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Paixão pela música


Daniel Barenboim


Valey Gergiev


Christoph Von Dohnanyi


Leon Botstein


Ivan Fischer


Daniel Oren

O fotógrafo estadunidense-israelense Dan Porges tem se dedicado maiormente a retratar músicos, poetas e políticos.
Entre muitos retratos ótimos, escolhi essa série de maestros que levam a paixão pela música marcada a fogo nos olhares e nas mãos.

Todas as fotos de Dan Porges

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Os Três Patetas e uma história sem sorrisos



A história dos Três Patetas tem uma área escura. Nos bastidores do sucesso se esconde a vida sofrida dos protagonistas, que jamais foram reconhecidos enquanto vivos, foram explorados e jogados fora pelos Estúdios Columbia. A supervivência do trabalho deles só faz maior o hiato entre o que eles significaram na história da comédia e o troco que a indústria do entretenimento lhes deu.
Os irmãos Moe e Curly Howard e Larry Fine eram uns garotos da classe operária quando começaram a trabalhar no gênero do vaudeville, na década de vinte. Nas duas décadas seguintes e no começo dos anos cinqüenta, eles filmaram uns duzentos curtas para a Columbia Pictures, mas foram objeto de uma exploração selvagem pelo empresário deles, Harry Romm, e pelo estúdio, que na época era dirigido por Harry Cohn.
Se bem The Three Stooges não tinham o prestígio de outros cômicos -os curtas deles eram exibidos nos cinemas como complemento de outros filmes-, a Columbia faturou uma fortuna com eles.
A realidade é que a vida dos reis do pastelão não tinha nada de engraçado. Curly era alcoólatra, vivia submetido a paixões que só lhe traziam sofrimento e padecia uma apoplexia que o levou à morte aos 48 anos. No seriado foi substituído por Shemp Howard, irmão mais velho de Moe e Larry, que também morreu cedo; Joe e, no final, por Curly-Joe.
Larry era viciado em jogo. Essa doença fez com que vivesse endividado. E Moe, que era o mais estável, jamais conseguiu superar o destrato dos empresários.
Eles não ganhavam bem, mas tinham trabalho e isso já era muito bom para quem havia atravessado a grande depressão dos anos vinte. Jamais foram cientes da dimensão da popularidade deles.
Em 1958, a Columbia decidiu cancelar as filmagens e eles foram demitidos. Moe chegou a trabalhar como mensageiro dos estúdios e anos depois foi até barrado na porta um dia em que foi visitar velhos colegas.
Na década de sesenta os curtas resurgiram na televisão e Os Três Patetas ganharam uma nova fama que até hoje continua, pois o seriado é ainda exibido em dezenas de países.
Os herdeiros deles se deram bem: a marca The Three Stooges tem mais de cem franquias para roupa, brinquedos, guloseimas e merchandising.
Os outros herdeiros estão aí, de Steve Martin a Jim Carrey, muitos comediantes beberam nas fontes dos Patetas. Até Mel Gibson disse que vários gags de Máquina Mortífera foram inspirados pelas velhas trapalhadas deles.
No entanto, a MGM anunciou a filmação de um longa dos Três Patetas dirigido pelos irmãos Bobby e Peter Farrelly, com Sean Penn, Jim Carrey e Benicio del Toro nos protagónicos.
A história de Os Três Patetas, outro paradoxo entre o público e o privado, só parece confirmar a velha lenda da indústria que diz que em cada cômico se esconde um homem com o coração quebrado.



Veja Os Três Patetas (dublado em português)
Veja Los Tres Chiflados (dublado em espanhol)
Veja The Three Stooges (versão original em inglês)



Fotos de Os Três Patetas, reprodução dos filmes

terça-feira, 14 de abril de 2009

Hélio Oiticica além da arte



“Adeus, ó esteticismo, loucura das passadas burguesias, dos fregueses sequiosos de espasmos estéticos, do detalhe e da cor de um mestre, do tema ou do lema”.

Foto de Hélio Oiticica em Londres, em 1969, na fase que ele se recusou a chamar de exílio, sem crédito do autor

segunda-feira, 13 de abril de 2009

And a dog named Boo



Meus amigos, estamos em problemas. Se o cachorro do presidente da principal potência mundial é uma razão de estado, não temos como não perder o rumo. Há meses que vejo na mídia notícias e mais notícias sobre esse assunto. E tudo coberto por um véu de mistério como se a questão fosse o arsenal de algum país do Eixo do Mal.
Quem diabo está interessado no cachorro de Obama? Quer dizer, quem deveria estar, além dele e dos coitados dos filhos a quem lhes foi prometido há meses?
Enfim, há dois dias que os principais jornais do planeta reproduzem a foto e dedicam extensas matérias ao novo "primeiro cachorro", doado pela família Kennedy e aceitado depois de uma "visita secreta". Juro que eu li tudo isso, não estou delirando.
Mas já sai viajando. Parece que o cachorrinho foi batizado com o nome Bo, que vem a ser o apelido do vovô das crianças, que vem a ser uma homenagem ao grande compositor e cantor de blues Bo Diddley.
Então eu lembrei de outro cachorro, menos famoso mas que teve lá seus quinze minutos que Warhol lhe prometeu a todo mundo. Tudo bem, tem um o a menos no nome, mas Boo foi o protagonista do grande hit de 1971, Me and you and a dog named Boo, do cantor de folk rock conhecido como Lobo.
O tal Lobo nos documentos é Roland Kent Lavoie. Em 1970, ele estava num bar de Tampa procurando uma rima para o verso "Me and you" quando viu aparecer do outro lado da porta o pastor alemão Boo, conhecido na área. Ele ganhou a rima e o refrão de um sucesso enorme.
Mas o produtor Phil Gernhardt que já trabalhava com ele e que já percebia que a música seria um hit, sugeriu a Roland mudar o nome. E Roland assinou como Lobo, a tradução para o espanhol de wolf. Pois é, na Florida todo mundo arranha um pouquinho de espanhol.
Me and you and a dog named Boo começou a multiplicar sua bonita e fácil melodía nas rádios, chegou ao Top 5 nos Estados Unidos e ao número 4 na parada da Billboard da Inglaterra. O pessoal achava que Lobo fosse uma banda até que o cara deu a ídem.
A carreira de Lobo continuou com moderado sucesso nos anos setenta, mas nada comparável com aquela primeira música.
Ele agora está quase aposentado, dedica seus dias a pescar, à sua plantação de laranja e outras cositas más. E de vez em quando pega o violão e vai fazer uma tournée pela Asia onde, como é sabido, tem mercado pra tudo.
E assim que lembrei da música fui logo pro Youtube e achei um vídeo maravilhoso da televisão inglesa, uma espécie de Os 40 Mais de 1971, um desses programas que botavam moças pra dançar e só. E a música-objeto é a tal.
Então, melhor do que ficar lendo essas notícias ridículas, conheça um cachorro pra valer, o Boo, e de quebra, veja como era a televisão quando não existia Big Brother:
Me and You and a Dog Named Boo



Foto de Bo, o cachorro de Obama, da Agência Reuters
Foto de Boo e o cantor Lobo, sem crédito do autor, achada no site The Back Bay-The Fans of Lobo Webpage

domingo, 12 de abril de 2009

Corín Tellado



As vezes penso que eu acabei trabalhando no jornalismo não tanto pelo meu ofício de escrever quanto pelo fascínio que as bancas de jornais me provocavam na infância. Aquela sensação que Caetano revelara em Alegria, alegria: “O sol se reparte em crimes espaçonaves, guerrilhas, em Cardinales bonitas...
Mas minha admiração, diferentemente daquela de Caetano, já era noturna. Do outro lado da avenida, em frente da minha casa, ficava a banca do Francês, que nem lembro se era francês mesmo porque parecia portenhíssimo com sua disfonia crônica de gritar manchetes de jornal.
Naquela banca meus pais compravam as revistas deles: a Claudia e a Gente para minha mãe e a TV Guía para o meu pai, onde freqüentemente ele mesmo aparecia.
O meu irmão mais velho ganhava a Pelo, a única revista de rock na época e Jorge e eu comprávamos as de esportes: El Gráfico (que era a melhor mas ficava com Jorge por direito de irmão mais velho) e a Goles para mim, que era ruim de impressão, as fotos nem eram preto e branco mas de uma cor marrom.
As vezes tinhamos que esperar que o caminhão chegasse trazendo as revistas que eram como pão que acabara de sair do forno.
Nesse festival de cores que as bancas são, havia várias revistas que chamavam minha atenção, mas que me eram desconhecidas ou proibidas. Uma delas era Corín Tellado. Na capa sempre tinha um homem e uma mulher abraçados ou de mãos dadas ou com suas bocas prestes pra beijar.
Corín Tellado, na minha ignorância infantil, não era nome de gente, mais parecia um substantivo seguido de um adjetivo, algo assim como “amor impossível” ou “coração quebrado”.
Mas Corín Tellado era o nome da autora desses pequenos romances, uma espanhola nascida em Asturias. E aquelas revistinhas se vendiam aos montes.
Minha mãe não lia aquelas coisas, mas todas as empregadas liam e milhões de outras mulheres (e homens) também, porque as leitoras se contavam por milhões.
Com o passar do tempo, eu soube que Corín Tellado -que morreu ontem aos 82 anos- era a rainha do chamado romance cor de rosa; que escreveu mais de 4.000 romances cortos e vendeu 400 milhões de exemplares, desde que publicou o primeiro, em 1946.
Desprezada pelos intelectuais, esses intelectuais nossos que torcem o nariz por tudo que seja popular, ela não era uma escritora de requintes estilísticos. Contava histórias sentimentais do ponto de vista feminino, paixões de um erotismo velado, até onde o regime de Franco permitia. Beijos, corpos que se roçavam e caricias limitadas.
A escritora acordava às cinco da manhã, bebia café só e fumava ao tempo que começava a rotina de escrever na máquina Olivetti. Assim foi até que o corpo aguentou. Depois dictava as linhas que a nora digitava no computador.
Porque, como ela dizia: “alguém tinha que escrever as histórias de amor”.



Foto de Corín Tellado do arquivo do jornal El Mundo

sábado, 11 de abril de 2009

García Márquez e Vargas Llosa: Inimigos íntimos



O escritor colombiano Gabriel García Márquez conheceu seu colega peruano Mario Vargas Llosa em 1967, quando coincidiram na Venezuela para a entrega de um prêmio a Vargas Llosa.
Curiosamente, nesse mesmo ano foi publicado em Buenos Aires Cem anos de solidão, o romance que depois seria estandarte do chamado Boom Latinoamericano.
Gabo e Vargas Llosa ficaram muito amigos, ao ponto de que o peruano chamou o colombiano para ser padrinho do segundo filho.
Mas em 1976 a amizade acabou, e da pior maneira.
Na noite de uma avant-premiere de um filme no México, Gabo foi cumprimentar o amigo de braços abertos, mas Vargas Llosa o recebeu com um direto que deixou García Márquez à beira do nocaute. Jamais voltaram a se falar.
O episódio virou lenda, alimentada pelo mistério. Como se tivesse havido um pacto secreto entre ambos escritores, nenhum deles jamais fez menção daquela noite.
Mas em 2007 apareceu a foto que Rodrigo Moya -o mesmo fotógrafo que tinha imortalizado Gabo no interior da capa do Cem Anos- fez no dia seguinte, onde o depois ganhador do Nobel aparece com o olho roxo. Uma imagem que tinha permanecido trinta anos na gaveta do fotógrafo e da qual só o escritor colombiano tinha cópias.
Moya deu uma pista sobre o incidente. Ele disse que Mercedes Barcha, a esposa do Gabo que o acompanhava naquela manhã, disse várias vezes “É que Mario é muito ciumento”.
Na época, Vargas Llosa atravessava uma crise com a mulher Patricia e o casal García Márquez intercedeu. Mas parece que o peruano não gostou dos conselhos e quando a paz voltou quem levou a pior, como sempre, foi o terceiro em discórdia.
Mas nesses tempos o que começou a distanciar os escritores foram as ideologias, com a consabida virada à direita de Vargas Llosa.
Em 1971, quando o poeta cubano Heberto Padilla foi preso, Vargas Llosa retirou seu apoio à revolução, seguido pelo mexicano Carlos Fuentes. Porém, García Márquez e Cortázar mantiveram a solidariedade com o governo de Fidel.
Mas embora as diferênças cresciam, eles continuaram amigos até a noite do nocaute.
Em fevereiro foi editado na Espanha o livro De Gabo a Mario, de Ana Gallego y Angel Esteban, que pretende jogar luz nas causas da amizade e da separação dos dois escritores e, de quebra, revisitar aquela fase gloriosa da literatura.
Mesmo assim, os autores não arriscam uma versão definitiva sobre a briga porque nenhum dos protagonistas confirmou o motivo.
Talvez, o mistério jamais será desvendado.



Foto de Gabriel García Márquez de Rodrigo Moya
Foto de Gabriel García Márquez com Mario Vargas Llosa, sem crédito do autor

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Última Ceia: Mais cinco versões profanas


Some Living American Women Artists/Last Supper, de Mary Beth Edelson


The Last Supper, de GAL (Gerard Alsteens)


The Last Supper, de Frank Herholdt


The Last Supper, de Raoef Mamedov


James Wood's Last Supper, de Brandon Bird

(Clique nas imagens para ver melhor)
Em tempos de vigília, as cinco que ficaram fora da escalação de ontem.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A Última Ceia: Dez versões profanas


A Última Ceia, de Leonardo Da Vinci

e dez versões profanas


The Soprano's Last Supper, de Annie Leibovitz


Last Supper, de Marithé e François Girbaud


Sanjie, de Cui Xiuwen


Asado criollo, de Marcos López


Last Supper, de David LaChapelle


La Scène, de Bernard Benant


Underwater Last Supper, de Howard Schatz


Elvis Presley's Last Supper, de Guy Peellaert


Andy Warhol's Last Supper


Yo Mama's Last Supper, de Renée Cox

(Clique nas fotos para ver melhor)

A genial obra de Leonardo Da Vinci tem exercido uma fascinação constante em diversos artistas, tanto pela sua perfeição técnica quanto pelos seus significantes.
Muitas das versões aqui reproduzidas foram proibidas ou questionadas. A intenção não é de ofender ninguém mas de oferecer novas visões e releituras de um fato marcante da história universal.